Transcrito por Jose Capitao Pardal
O Rosa, Figura carismática do C. F. de Estremoz...
por Carmen Maria Lopes Movilha
O Rosa era um senhor alto de feições finas, nariz um pouco adunco, muito aprumado, culto e educado no trato.
Constava que teria tido um bom berço e muit...os mimos familiares.
Ouvi falar mais tarde que o Rosa na sua juventude teria sido um bom futebolista e que teria jogado no Clube de Futebol de Estremoz à época, mas que por diversas vicissitudes a sua carreira tinha sido curta, apesar de ser muito talentoso para as artes do futebol, mas talvez os tempos não fossem de feição para grandes voos e para grandes sonhos.
Lembro-me do Rosa estar sempre atento e pronto a dar o seu testemunho aos resultados futebolísticos do seu Estremoz.
Conheci o Rosa quando eu tinha cerca de 12 anos de idade.
A sua vida já estava no ocaso.
Na minha observação via-o a fazer pequenos recados para o restaurante lá da rua, ia buscar e levava numa grande alcofa os legumes, as carnes e o peixe, assim como o tabaco, e mais um sem fim de pequenas tarefas, isto tudo a troco do almoço e do jantar, o Rosa lá ia sobrevivendo.
A sua grande paixão era o cinema e com as pequenas gorjetas que lhe davam lá ia o Rosa todas as terças, quintas, sábados e domingos ao Teatro Bernardim Ribeiro ou no Verão á Esplanada Parque ver os filmes do Gardel, de cowboys, ou os grandes clássicos como os Canhões de Navaroni ou E Tudo o Vento Levou.
Ficava sempre na primeira fila da geral e não perdia "pitada" dos dramas, das lutas, ou das paixões, tudo depois era relatado em forma de enredo nas noites de amena cavaqueira no café também da minha rua.
O Rosa na sua idade adulta tinha sido um bom e habilidoso sapateiro arranjando todo o tipo de calçado, metendo capas, tacões ou meias solas.
Deixavam-no dar asas á sua arte numa pequena oficina também ocupada por outros dois sapateiros. Era uma casa baixinha e modesta só de rés-do-chão, tendo só uma pequena porta, e não tendo janelas.
O Rosa também tinha um pouco a mania das doenças, bastava perguntarem-lhe como estava, para ele começar a enumerar logo ali um rosário de queixas e maleitas que poria os cabelos em pé a qualquer médico.
O Rosa tinha o hábito de dormir sempre uma pequena sesta na oficina após o almoço, e para tal sentava-se na sua pequena cadeira e ali dormia pelo menos uma hora, dizia ele que era para retemperar forças.
Ora num belo dia pelo Entrudo os colegas e os vizinhos da pequena rua pensaram fazer-lhe uma partida.
Deixaram que ele adormecesse como era hábito e então fecharam a porta ficando a oficina em total escuridão e lá dentro começaram a bater solas com grande vigor, como se estivessem a trabalhar.
O Rosa acordou com todo aquele alarido e abrindo os olhos não conseguia ver nada pois estava tudo numa grande escuridão, mas ouvia os colegas a trabalhar e a falar, e como tinha a mania das doenças, lá começou a gritar e a chorar que estava desgraçado pois tinha cegado, e que tinha razão no que dizia, a doença tinha tomado conta dele.
Depois de tamanho alarido lá lhe abriram a porta e ele lá viu que estava bem.
Foi uma risota geral, a partida espalhou-se pela cidade e não se falava em outra coisa.
Tinham pregado uma bela partida ao Rosa.
Passados estes anos todos o Rosa ainda faz parte do meu imaginário, lembro-me dele com saudade, e com muita ternura.
Era uma boa pessoa e fez parte de uma época da cidade de Estremoz.
A minha homenagem a este senhor.
Já partiu para outra dimensão, onde quer que esteja desejo que esteja em paz.
Até um dia Rosa.
Carmen Movilha
Novembro de 2013