sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Os meus "Brados do Alentejo", por Mário Casaca

Por ocasião dos 84 anos dos "Brados do Alentejo" e inspirado na foto que se deixa abaixo, o Mário Casaca fabricou, "ao correr da pena", esta obra prima sobre o tempo que passou como colaborador daquele jornal, nos anos idos da década de 50 e 60, do século XX.
 
 
 

 

Com 13 anos, há 61, entrei na Redação do Brados do Alentejo, para fazer os recados ao Eng. Pimentel, Eng. Tavares e Dr. Faria Pais e devido a eles perdi, sem me aperceber, a minha rica pronúncia de Estremoz.
 
Disso me apercebi quando, depois das nossas andanças por África, eu visitava a família e os amigos e destes havia sempre duas frases sacramentais a cheirar a Estremoz "Atão Mário, qando vieste e qando abalas".
 
No Brados me fiz homem e aprendi muito do que sei hoje.
 
Quando a Rita Grades casou com o Simplício Balesteros, tinha 17 anos, promoveram-me a escriturário-mor, porque eu me impus, queriam meter outra menina e eu é que tinha de lhe ensinar.
 
Ora essa! Daí, até aos 21, em 1961, ano em que me alistei, fui pau para toda a colher, revisor, escriturário, paginador, aprendi com o Silveira do Registo Civil, ia lá todas as tardes como redator, corrigir as notícias dos correspondentes.
 
As listas de rótulos para os assinantes do correio, ainda não havia o stencil, só davam para 5 semanas. Metendo mais um químico para a 6ª folha era ilegível.
 
A Redação era frente à Quinta dos Tabordas e Sandes, na rua do Comandante Espanhol e sua filha Armanda, que o Pimpão conseguiu levar "ao engano", do ti Alexandre das bicicletas, do Fortio enfermeiro e da mãe, os Salsinhas, o coiso das peles, que rua, a Adega do ?, e não entro na rua que dá para o Espírito Santo, Badetes, Ciríaco presidente o que destronou o Pimentel.
O Pimentel e o Tavares davam com cada bordoada nele.
 
Aí me fiz escrevinhador e tenho pena de não ter colecionado os jornais onde escrevinhei.
Um dia lembrarei aqui memórias desses anos.
 
Desculpem o atabalhoado que "práqui" vai, mas são 3 da matina e o corpo já não aguenta.
 
Um abraço para toda esta família do Brados do Alentejo.
 
Lembram-se da coluna na 2ª página que tinha os aniversários? lol.
 
Quem viveu o cheiro das tintas e assistiu aos pastéis dos linguados atados do Sr. Peralta e outras coisas, tem que ser mesmo um "trapalhão" da escrita.
 
Pelo menos mais 84 anos para o nosso jornal, que do antigo é só uma lembrança.
 
Que pena, na foto só 3 estão identificados e de todo o grupo só o Fateixa não me é estranho de nome, mas este Fateixa calculo que já seja o filho do meu Fateixa da loja antes do Eco e do Zé Varado, antes havia a loja das máquinas Oliva e ourivesaria do Sr. Lemos, mercearia em que os 2 irmãos aviavam a freguesia e eu também lá era freguês, mas dividia as "fartas" compras de uma família pobre com a mercearia do Miguel, todos tinham direito aos nossos tostões.
 
Identifiquem lá os outros companheiros e eu voltarei aqui, mas avisem-me, porque este "Brados" onde agora escrevinho é maior que o mar. 
 
Não apetece mas agora é que vou ver lençóis e mantas em cama de colchão ortopédico, pois já lá vai o tempo em que o colchão era de palha de milho, com alguns tarolos à mistura.
 
Apesar dessa pobreza, fui a pessoa mais rica de Estremoz, porque hoje a minha memória é quase uma bíblia, os nomes soltam-se atrás uns dos outros.
 
Vou... não vou nada, voltei à segunda edição para lhes dizer que o ti Alexandre das bicicletas, que já falei atrás, não é acima, camaradas, alugava bicicletas e fez de mim seu escriturário para os postais de encomendar aos fornecedores, pneus, "cambras" de ar, pedais, refletores, campainhas. travões, bicicletas novas, e, em troca me deixava andar de borla lá numa pasteleira de senhora de rodas baixas e grossas.
 
Oh! abençoado ti Alexandre, aquela bicicleta fez-me conhecer todos os cantinhos da Ribeira de Tera, que cheiros a erva de poejo da ribeira e rosmaninho, o peixe viajava sempre para o pego da semana anterior, mas o que valia era os bons livros que lia nesse remanso de verão e a marmita da ti Margarida com uma bucha para o caminho.
 
O caminho de volta a subir é que era obra, mas havia uma paragem obrigatória na quinta dos "Pimentéis", patrão do Brados, cujo filho Manolito fez a comunhão comigo e era costume os ricos levarem os pobres a sua casa naqueles dias, talvez fosse para pedirem perdão ao céu por alguns pecados, mas a água deles aparecia com umas coisas de vidro dentro, tiradas de uma caixa branca ao alto, do tamanho das arcas que salgavam o toucinho na casa do tio João quando matava o porco em Janeiro, onde a água era fresquinha, não como a dos nossos cântaros de barro, com água da nossa canalização que era a fonte do Espírito Santo, ao lado da rua do Lavadouro, mas com vidros de gelo dentro do copo, mesmo que eu pudesse substituir o cântaro do poial, de que me valia, se me alumiava ainda a candeeiro a petróleo.
 
Boa noite, vai para aqui uma miscelânea que nem me dou ao trabalho de reler e corrigir, é apenas um monólogo para amigos, e eles desculparão a minha falta de juízo ao recordar desta maneira o meu Brados do Alentejo.