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Escrito por CienciaPT
09-Mar-2010
A intenção era estudar os efeitos da exposição pré-natal à cocaína durante a formação da cóclea (porção do ouvido interno onde se localizam as células sensitivas responsáveis pela audição), mas pelo caminho uma descoberta levou à reorientação dos trabalhos: a enzima tirosina hidroxílase participa no desenvolvimento dos neurónios do ouvido – revela um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP).
A investigação analisou a actividade da enzima nos neurónios dos ratos durante os vários processos de refinamento neuronal e bioquímico inerentes ao desenvolvimento normal da cóclea, verificando-se o aparecimento da tirosina hidroxílase no início da audição.
Os resultados do ensaio com fêmeas de rato grávidas, expostas a 60 miligramas de cocaína por dia, revelam complicações no feto, que a nível da audição se podem traduzir na surdez.
A exposição dos fetos à droga provoca um avanço (de 4 dias, em relação ao normal) na maturação das estruturas da cóclea em formação.
Isto leva à dessincronização entre o desenvolvimento da cóclea e os centros nervosos da via auditiva central, que ainda não estão prontos para receber as células neuronais, tornando-os vulneráveis à lesão.
A experimentação animal revelou, ainda, atraso na abertura do canal auditivo externo, diminuição do consumo da glicose nas estruturas auditivas centrais e surdez sensoneural.
Em recém-nascidos humanos, os estudos revelam alterações semelhantes em testes de compreensão auditiva e de expressão verbal em crianças expostas in útero ao psico-estimulante.
De relevar que a cocaína é uma molécula que atravessa facilmente as barreiras biológicas, como a placenta e pode, segundo o estudo, levar a defeitos no sistema cardiovascular, ao atraso no crescimento intra-uterino e ao parto prematuro.
O Instituto de Anatomia da FMUP e o Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) da Universidade do Porto dedicam-se ao estudo da neurotoxicidade das drogas há cerca de duas décadas.
Nessa linha de investigação, Nuno Trigueiros Cunha desenvolveu a sua tese de doutoramento em Medicina, analisando os efeitos da exposição pré-natal à cocaína durante a formação da cóclea.
Recorde-se que a nível mundial, a cocaína ocupa o quarto lugar das drogas ilícitas mais consumidas, com cerca de 16 milhões de consumidores.
Em Portugal, é a segunda droga mais consumida, com prevalência de 1,1% no sexo masculino e 0,2% no sexo feminino – 5 homens por cada mulher.
Nos últimos anos, 1% das mulheres grávidas afirma ter consumido cocaína durante a gravidez.
Actualizado em ( 09-Mar-2010 ).
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